segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Pixinguinha e a dificuldade de ser negro no Brasil

 
 
Nasceu Alfredo da Rocha Viana Filho, em 23 de abril de 1897 - dia que, em sua homenagem, foi designado como o Dia Nacional do Choro, em 2000. O compositor carioca consagrou-se com o apelido de Pixinguinha, dado pela avó africana que o chamava pinzindim (menino bom). Nascido numa família de músicos, muito cedo ele começou a trabalhar com os irmãos em casas noturnas no Rio de Janeiro. Iniciou sua carreira com flautista e encerrou como saxofonista. Dizem que tinha problemas com o bocal da flauta.

Apesar de inúmeros percalços, Pixinguinha seguiu em frente e transformou-se num dos mais inventivos e importantes compositores da MPB. A importância de Pixinguinha para o chorinho é a mesma da de Tom Jobim para a bossa nova, ou seja, ele sistematizou o ritmo e lhe deu novos contornos, muito avançados para a época. Participou de diversos grupos e marcou época com Os Oito Batutas, do qual o amigo Donga também fazia parte.

Nas décadas seguintes à Abolição da Escravatura e desde o início do século 20 os negros brasileiros enfrentavam imensas dificuldades em todos os campos da vida, inclusive na música. Eram taxados de “malandros”, “vagabundos”, entre outras ofensas. O título deste artigo em homenagem a Pixinguinha pelo conjunto de sua obra, surgiu de dois acontecimentos.

Primeiro, de um comentário da leitora do Vermelho Beatriz Helena Souza sobre um artigo que escrevi com o título Contra o preconceito, conhecimento. Disse ela: “acho impressionante que ainda hoje ser negro seja tão complicado neste país”. E acrescentou que “ainda somos olhados como outro e não com parte”.

O outro fato que levou ao título liga-se diretamente com algo que ocorreu com o próprio músico nos anos 1920, como conta o flautista Altamiro Carrilho no livro Os sorrisos do choro. Pixinguinha contou a ele a história da canção composição Lamento: em 1928 Os Oito Batutas fez enorme sucesso na França sendo, por isso, homenageados em um importante hotel no Rio de Janeiro, ao retornar. Mas foram obrigados, pelo racismo vigente, a entrar pela porta dos fundos pois não se aceitava que negros entrassem pela porta principal.

A reação de Pixinguinha foi repetir a palavra lamento algumas vezes e Donga, seu companheiro de grupo, sugeriu que compusesse uma música com esse título na qual, trinta anos depois, Vinicius de Moraes colocou a letra.

Várias canções do músico carioca receberiam letras tempos depois, como Carinhoso (letra de Braguinha) e Isso que é viver (letra de Hermínio Belo de Carvalho).

As canções de Pixinguinha derramam brasilidade e atingem o âmago da alma do brasileiro afirmando sua negritude. Músicas como A vida é um buraco, Benguelê, Cafezal em flor (parceria com Eugênio Fonseca), Conversa de crioulo, Festa de branco (com Baiano), Patrão prenda seu gado (com Donga e João da Baiana), Vou vivendo, Fala baixinho, No elevador, Rosa (com Otávio de Souza), entre inúmeras outras que fazem parte da história de nossa canção popular.

A força da música de Pixinguinha resiste ao tempo e marca a vida brasileira. Basta entoar Carinhoso ou Lamento. Por isso, falar dos 40 anos da morte do grande músico é importante para trazer à tona o poder de sua obra, rica e diversa. Pixinguinha morreu em 17 de fevereiro de 1973, aos 75 anos. Mas sua música não morrerá jamais.

Pixinguinha foi forte influência às gerações futuras de músicas por orquestrar, arranjar, harmonizar, tocar instrumentos e compor como poucos. Sem dúvida está entre os maiores músicos do planeta no século 20.

Ouça: Lamento (com Vinicius de Moraes, interpretação do MPB4)



Por Marcos Aurélio Ruy é colaborador do Portal Vermelho

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