quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

A renúncia do Papa

Por D. Demétrio Valentini


A surpresa foi total, e se espalhou logo por todo o mundo: no dia 11 de fevereiro deste ano de 2013, o Papa Bento XVI anunciou sua renúncia, marcando dia e hora para entregar o cargo, às 20 horas do dia 28 deste mês de fevereiro.

Tudo bem pensado, decidido e agendado.
Uma decisão tomada no íntimo de sua consciência, mas anunciada a todos, de maneira súbita e inesperada.
Agora, rapidamente, a surpresa passa a fato consumado. A Igreja vive uma situação inédita, com inesperado potencial de consequências.

Em primeiro lugar, fica muito ressaltada a nobreza do gesto, que angariou um grande respeito pela figura de Bento XVI.

Com sua decisão, e da maneira como ele a anunciou, mostrou admirável desprendimento pessoal e grande senso de responsabilidade.

Além disto, pela natureza do fato, o Papa demonstrou pleno uso de suas faculdades, deixando a todos a certeza de que agiu com plena consciência e com perfeita liberdade, sem nenhuma pressão externa. Ele fez questão de deixar a certeza de sua perfeita capacidade de pensar e de decidir livremente.
O gesto, com certeza, tem um peso moral muito grande, pela demonstração de desprendimento do poder, de humildade, e de senso de serviço com que ele exerceu este cargo tão importante no contexto da Igreja.
Ele podia ter efetivado a renúncia de imediato, retirando-se subitamente. Mas não! Ele quis garantir um tempo adequado para as providências a serem tomadas em vista sobretudo do processo de escolha do novo Papa.

Por este gesto Bento XVI ficará na história. Será sua maior contribuição à Igreja.
Marcando um dia para efetivar sua renúncia, Bento XVI sinaliza o ritmo para os encaminhamentos a serem dados. Com isto fica aberta a questão da influência que Bento XVI poderá exercer no processo de sua sucessão. Pois esta é uma situação completamente nova na história recente da Igreja. Nunca se fez um conclave contando com a figura de um “papa emérito”, para evocar a situação mais parecida que se vive hoje na Igreja, com a existência de tantos “bispos eméritos”.

A interrogação aumenta quando nos perguntamos como será empregado pelos cardeais este tempo prévio, de quase vinte dias, antes de serem desencadeados os preparativos do conclave. Pois o clima eleitoral já se instalou, com o grande interesse que ele suscita. De fato, vamos viver uma situação que não encontra similar na história da Igreja. E isto poderá proporcionar condições bem diferentes para o novo Papa que for eleito.
Outra curiosidade, fácil de comprovar, será a atividade de Bento XVI nesta fase de transição que já começou. Simbolicamente é interessante que ela coincida com a quaresma. Com a perspectiva de sua próxima renúncia, poderia parecer que seus gestos e palavras agora não tivessem mais tanto significado, vindos de um papa com seus dias contados. Mas ao contrário, pela importância do seu gesto, e pela maneira como foi feito, Bento XVI se revestiu de grande autoridade moral, em vista sobretudo de ter criado um fato novo na Igreja, cujas consequências poderão também surpreender. Tudo isto reforça sua importância, como protagonista de uma situação inédita, e como exemplo de abnegação pessoal e de serviço à Igreja.

O gesto de sua renúncia se constitui na culminância do seu pontificado. Vale a pena acompanhar agora seus desdobramentos.

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