quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

O horror diante dos olhos

As causas, o desespero e os prejuízos do dilúvio que
atingiu o coração de Santa Catarina, um dos estados
mais prósperos e desenvolvidos do Brasil


Igor Paulin e Duda Teixeira, de Santa Catarina, e José Edward

Moacyr Lopes Júnior/Folha Imagem

Salvação pelo ar
Uma família de desabrigados da área de Alto Baú, em Ilhota, é resgatada por helicóptero da Força Aérea





Na era das grandes navegações, a palavra "procela" entrou para o vocabulário da língua portuguesa. Procelas são as fortes tempestades que se formam em alto-mar. Na semana passada, uma procela se adensou, não sobre o oceano, mas nos céus da próspera Santa Catarina. Quando ela despencou sobre as cidades, foi com uma fúria e constância jamais vistas, mesmo numa região historicamente sujeita a precipitações caudalosas e enchentes. Apenas na Blumenau dos laboriosos imigrantes alemães, caíram, em cinco dramáticos dias, 300 bilhões de litros de água. Sim, bilhões – o suficiente para abastecer a cidade de São Paulo durante três meses. Outra comparação é ainda mais impressionante: se esse volume hídrico fosse despejado dentro de uma torre com uma base de 1 metro quadrado de área, a construção teria de ter 300.000 quilômetros de altura – quase a distância entre a Terra e a Lua. A primeira das mais de 100 vidas ceifadas por tamanho horror foi a da menina Luana Eger, de 3 anos. No sábado 22, um barranco deslizou sobre a casa em que ela morava, soterrando-a. A mãe de Luana, Virgínia, e seus irmãos Juan, de 7 anos, e Rafael, de 5, escaparam da morte. Seu pai, o comerciário Evandro Eger, estava fora da cidade quando soube do desastre. Restou-lhe comprar num supermercado o vestido cor-de-rosa com o qual enterrou a filha no dia seguinte. "Era a cor preferida dela", disse ele. Evandro e Virgínia ainda conseguiram dar um funeral razoavelmente digno à menina. Muitas das vítimas foram enterradas em caixões improvisados, e nem sempre em cemitérios, mas em quintais. Até sexta-feira, dezenove pessoas continuavam desaparecidas. Boa parte delas pode ter sucumbido em decorrência de afogamentos e dos 4.000 deslizamentos registrados no estado. Somados, desabrigados e desalojados chegam a 79.000. Dos 293 municípios do estado, 49 foram atingidos. Catorze deles decretaram estado de calamidade pública. Nessas cidades, os sobreviventes lutam contra a fome e doenças pestilentas. E, como se não bastasse a desgraça, tentam evitar saques no que sobrou de suas casas e negócios.

Foi a maior calamidade já ocorrida em Santa Catarina, que registra grandes enchentes desde 1852. Em que pese o que possa ter havido de desídia ou incompetência por parte das autoridades na prevenção da tragédia, ela foi, sobretudo, resultado de uma combinação catastrófica de dois fatores – um meteorológico e outro geográfico. O primeiro começou a tomar forma no dia 20 de novembro, quando um anticiclone estacionado em alto-mar, na altura do Rio Grande do Sul e do Uruguai, levou chuvas para o litoral catarinense. Anticiclones são sistemas de alta pressão que, no Hemisfério Sul, originam ventos em sentido anti-horário. Eles são comuns no litoral catarinense e no gaúcho, de onde sopram ventos do Oceano Atlântico em direção ao continente. Isolados, não têm a força de causar grandes estragos e sua duração numa mesma região não costuma ultrapassar três dias. Só que, desta vez, por causa de um bloqueio atmosférico, isso não ocorreu. Até sexta-feira, o anticiclone permanecia no mesmo lugar. Ainda que extraordinária, sua longa permanência não teria causado a tragédia não fosse o fato de um segundo fenômeno – o vórtice ciclônico – ter ocorrido simultaneamente a ele. Ao contrário do anticiclone, o vórtice ciclônico é um sistema de baixa pressão que atrai ventos e gira no sentido horário. Como indica o nome, ele funciona como um redemoinho em altitudes médias, e também não é um fenômeno estranho à região. O problema surgiu da combinação com o anticiclone: o vórtice ciclônico suga os ventos imediatamente abaixo dele, levando-os para cima, resfriando-os e – de novo – provocando chuvas. Foi assim, por meio da ação extraordinariamente simultânea de dois fenômenos ordinários, que os índices pluviométricos na região atingiram patamares de dilúvio.

Fotos Moacyr Lopes Júnior-Folha Imagem e David J. Phillip-AP

À SEMELHANÇA DO KATRINA
Vista aérea do município catarinense de Itajaí, um dos mais castigados pela chuva. No destaque, a cidade americana de Nova Orleans, na Louisiana, um dia depois da passagem do furacão Katrina, em 2005. Lá, os mortos passaram de 1 300

O perfil geográfico era o detalhe que faltava para desenhar a tragédia. A camada superficial que recobre o solo do Vale do Itajaí, a região mais afetada pelas chuvas, é de composição argilosa – o que faz com que se desloque mais facilmente. Encharcada pela chuva forte e constante, essa camada ficou mais pesada. Somem-se a isso a declividade das encostas, os desmatamentos, as ocupações desordenadas e o resultado são deslizamentos destruidores, o principal causador das mortes no litoral catarinense e no Vale do Itajaí. O risco passou despercebido das autoridades. Já sob chuva grossa, pouco antes da morte da menina Luana, a Defesa Civil garantiu à população de Blumenau que não havia perigo. No fim da tarde daquele sábado, porém, o nível dos córregos que cortam a cidade começou a subir rapidamente. O Rio Itajaí-Açu transbordou as barragens e, em poucas horas, elevou-se 12 metros acima de seu nível normal. As chuvas provocaram deslizamentos e desmoronamentos. Como 40% da população local reside em encostas, todas as classes sociais foram afetadas.

A tormenta levou vidas e deixou, em seu lugar, histórias pungentes. No domingo 23, o operário André Oliveira, de 29 anos, deixou a família na casa de um parente, no município de Gaspar, e foi ao mercado. A poucos passos do portão, ouviu um estrondo. Ao olhar para trás, viu a mulher na varanda e os filhos no quintal. "Saiam daí", gritou. Não deu tempo. O morro próximo veio abaixo soterrando, além da sua casa, uma dezena de outras. Oliveira ainda ouviu o choro da filha de 3 anos, Ester. Tentou tirá-la dos escombros, mas dois novos desabamentos se sucederam. Quando resgatou os corpos, viu que sua mulher morrera abraçada à menina. "Ainda não parei de chorar", disse ao repórter Duda Teixeira.

Jonathas Cesario/Reuters

ARCA DE NOÉ
Gado procura abrigo na sede de fazenda alagada perto de Itajaí-Açu, localizada na foz do Rio Itajaí. A cidade teve 80% do seu território inundado: a subida das marés bloqueou o escoamento da água do rio para o mar, causando o seu transbordamento para as margens

Na cidade de Ilhota, mais especificamente no bairro do Baú, registrou-se o maior número de óbitos: 32. Foi lá que o caminhoneiro Zairo Zabel, de 37 anos, perdeu a mulher e os dois filhos, de 13 e 7 anos. Também no domingo passado, Zabel voltava para junto da família quando soube da enchente. Largou o caminhão no meio da estrada e arrastou-se por 12 quilômetros com água na cintura, até descobrir que sua casa havia sido tragada por uma avalanche. O corpo de seu filho mais velho, Marques, foi encontrado boiando pelos vizinhos. O do mais novo e o de sua mulher ainda estão possivelmente debaixo dos destroços. "Só sobrei eu", chorou Zabel, em conversa com o repórter Igor Paulin. No dia seguinte, a catástrofe aniquilou outra família na cidade de Rodeio. Um morro desfez-se sobre a propriedade mantida há mais de um século pelos descendentes dos Eccel, italianos que chegaram ao Brasil em 1885. Sob uma viga da casa, morreram abraçados o casal Dario e Giacomina e suas filhas Kendy, de 15 anos, e Kelly, de 7. Kevin, de 13, conseguiu escapar, mas ainda se lembra da mãe gritando "Aiuto!", socorro em italiano. Da família, além do garoto, só restou Keylla, de 5 anos, que se salvou do desastre.

Os prejuízos econômicos da catástrofe ainda não podem ser calculados em toda a sua extensão. O governo estadual estima que precisará, por baixo, de 280 milhões de reais apenas para reconstruir estradas, pontes e outras obras de infra-estrutura. A conta não inclui a reparação do Porto de Itajaí. Maior do país no setor pesqueiro e vice-líder em movimentação de contêineres, o Itajaí perdeu três de seus quatro berços. Estão parados lá 100 dos 450 contêineres que a Embraco, líder mundial na produção de compressores herméticos, exporta por mês. Outros sessenta contêineres de matérias-primas importadas esperam para ingressar no país. Só para recompor o porto são necessários 300 milhões de reais. Enquanto seus cais estão interditados, o país perde 77 milhões de reais por dia em exportações. A empresa estadual de gás de Santa Catarina ainda terá de gastar 50 milhões de reais para sanar o rompimento da tubulação num dos trechos do gasoduto Brasil-Bolívia. Levará três semanas para que o fornecimento desse ramal seja restabelecido. Até lá, as indústrias de cerâmica do estado, que dependem de gás para produzir, perderão 7 milhões de reais por dia. Os agricultores projetam prejuízos de 200 milhões de reais, a indústria têxtil, de 136 milhões, e o turismo, de mais de 120 milhões. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobrevoou as áreas destruídas quatro dias depois de a calamidade se abater sobre o estado. Afirmou que liberaria 2 bilhões de reais para socorrer Santa Catarina. Quando as águas baixarem de vez, os catarinenses precisarão secar as lágrimas para reconstruir sua linda terra.

Fotos Hermínio Nunes/Ag.RBS/AE, Patrick Rodrigues/Ag. Rbs, Marco Gamborgi/Mafalda Press, Piero Ragazzi/Mafalda Press/EFE e Artur Moser/Ag. RBS/AE

Lama, destruição e fome
Carros esmagados, casas soterradas e água por toda parte. À direita, moradores de Itajaí saqueiam supermercado

Fotos Marcos Porto/Ag. RBS, Moacyr Lopes Júnior/Folha Imagem e Fernando Donasci/Folha Imagem

Uma ilha de corpos
Cenário de 32 mortes, o bairro do Baú, em Ilhota, foi evacuado por ar. No alto, o resgate de um bebê. À esquerda, o corpo de uma das vítimas sobre um teto. À direita, uma mulher chora a perda de sua casa

Reprodução

A primeira vítima
Luana Eger, de 3 anos, morreu na tarde do dia 22, soterrada nos escombros de sua casa, em Blumenau. Seu nome encabeça a lista de mais de uma centena de pessoas que sucumbiram na tragédia

Guto Kuerten/Ag. RBS

NEGÓCIOS PARADOS
O Porto de Itajaí teve três de seus quatro berços destruídos: perda de 77 milhões de reais por dia em exportação

Flávio Neves/Ag. RBS/AE

Fila de túmulos
Acima, as covas abertas na cidade de Gaspar para os que morreram soterrados. O presidente Lula observou uma área atingida pelos alagamentos em um vôo de helicóptero no quinto dia da calamidade

Ricardo Stuckert/PR

Tarcisio Mattos/Tempo Editorial

O pior dos pesadelos
Zairo Zabel perdeu a família. Seus vizinhos encontraram o corpo de seu filho mais velho boiando na enchente. O de seu caçula e o de sua mulher ainda estão soterrados

FONTE: http://veja.abril.uol.com.br/031208/p_084.shtml

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Carta do Apóstolo Edson de Blumenau da Primeira Igreja Batista

Amados irmãos,
Apóstolo Edson e Ilana Mesquita



Blumenau vive um momento trágico. Não há precedentes na história de nossa cidade. Palavras jamais poderiam expressar as cenas diante de nossos olhos.

Finalmente, consegui um ponto de internet, depois de dois dias ilhado, totalmente isolado de minha família e dos irmãos. Fomos celebrar um casamento sábado à noite no interior da cidade vizinha de Gaspar e não conseguimos mais retornar. Minha esposa ainda está lá, longe de casa, até que as estradas sejam liberadas. Cheguei à minha casa um pouco a pé, um pouco de carona, passando por muita lama, barreiras, áreas alagadas... Graças a Deus encontrei meus familiares bem. Vários irmãos que estavam em retiros no final de semana estão ilhados e isolados desde sábado.

O que aconteceu em Blumenau é algo inexplicável. Os montes simplesmente vieram abaixo. Não foi uma enchente como todas as outras que já atingiram nossa cidade no passado.

Para que vocês tenham uma idéia, vou tentar explicar: As enchentes acontecem quando o Rio Itajaí Açu transborda. Aos poucos a água vai atingindo os pontos mais baixos a partir do rio, ou seja, de baixo para cima. As enxurradas são águas que vêm de cima para baixo. O que aconteceu aqui foram as duas coisas.

Há três meses chovia sem parar em toda a região. Era uma chuva fraca, mas, aos poucos, foi encharcando o solo até que ficou sem a possibilidade de absorver mais a água que caía. No sábado à tarde, dia 22, uma enxurrada caiu sobre a cidade e as montanhas começaram a cair, arrastando casas inteiras com as famílias em seu interior. Mas isso foi apenas o começo. Depois daquela, sucessivas enxurradas começaram a cair durante toda a noite de sábado e o dia de domingo. Os ribeirões, afluentes do Rio Itajaí, transbordaram, ao mesmo tempo em que o nível do Rio Itajaí subia com as águas que desciam das chuvas que caiam no Alto Vale. As águas da enxurrada não tinham vazão e a correnteza foi arrastando tudo o que vinha pela frente.

Olhando ao redor, parece que não ficou um ponto onde os montes não deslizaram. Não são áreas de risco, desmatadas, mas áreas com vegetação espessa, abundante, bem florestadas, que vieram abaixo. A vegetação não segurou as montanhas. É inexplicável e indescritível toda essa situação. Ricos e pobres foram atingidos.

Estamos dando suporte às pessoas atingidas na medida do possível. Milhares de pessoas perderam suas casas com tudo que tinham. Diferente das outras enchentes, elas não tem para onde ir agora. Os que conseguiram sair de suas casas apenas com a roupa do corpo estão agradecidos a Deus por suas vidas.

Ainda estamos, aos poucos, tomando conhecimento da situação. A comunicação é bem precária. Não há água potável nem luz. E não se tem previsão certa de quando tudo será normalizado. O lodo cobre a maioria das ruas e casas.

Como profetas, sabemos que tudo o que acontece no reino físico é uma mensagem do reino espiritual. Assim como Jó, no momento da aflição, se aproximou de Deus para depois conhecê-Lo na intimidade e dizer: “Agora meus olhos te vêem...”, cremos também que esta tragédia inclinará o coração desta cidade para Deus. Blumenau será chamada Cidade do Senhor.

O Senhor mudará nossa sorte! Não só nos restituirá, mas nos levará debaixo de um temor nunca antes experimentado para uma restituição em dobro, assim como fez com Jó.

Temos plena consciência de nossa responsabilidade sobre este território. Não ignoramos o que pode causar as catástrofes. Por favor, orem por nós, orem pela igreja em Blumenau, para que haja arrependimento. Orem pelos sacerdotes, para que exerçam seu papel de chorarem entre o pórtico e o altar e cessarem as competições, e divisões, e invejas, e amarguras..., para que venha a restauração e a restituição. Orem pela nossa unidade, pois é assim que conquistaremos esse território e veremos todo joelho se dobrando e toda língua confessando que Jesus Cristo é o Senhor.

Obrigado por ouvirem nosso apelo.
Fiquem na paz,

Brasil virou protagonista na busca por novo modelo econômico mundial

Os programas e ações do governo Lula tornaram o Brasil menos vulnerável à atual crise financeira e mudaram radicalmente a posição do país no cenário mundial, que agora figura como protagonista nas discussões de cúpula que buscam um modelo econômico capaz de reverter os estragos do neoliberalismo.

Essas foram as principais conclusões do debate promovido pelo PT na noite de quarta-feira (26), em Brasília, com o ministro da Fazenda Guido Mantega e com o assessor especial da Presidência da República Marco Aurélio Garcia – na primeira da série de encontros que a direção nacional do partido pretende fazer sobre a crise internacional e as alternativas de esquerda para superá-la. Os próximos acontecem em São Paulo e em Salvador nos dias 2 e 16 de dezembro, respectivamente, e envolvem parcerias com o PCdoB e o PSB.

No debate de Brasília, que lotou o auditório da sede do PT Nacional, tanto Mantega como Marco Aurélio, lembraram que a crise terá maior impacto nos Estados Unidos, na Europa e nos países centrais do capitalismo, que desregulamentaram excessivamente o mercado financeiro, permitiram que grupos especuladores movimentassem somas muito superiores às da economia real e agora, com estouro da bolha, correm risco iminente de entrar em depressão.

“A crise será de forte impacto nos EUA, fortíssimo na Europa e de impacto importante, mas diferenciado, nos emergentes”, avaliou Marco Aurélio. Ele e Mantega concluíram que, entre os emergentes, o Brasil – a partir das condições criadas pelo governo Lula – é o que está mais preparado enfrentar os principais efeitos da crise no plano mundial (diminuição do crédito, queda de consumo, recuo das exportações e desemprego).

Mantega fez uma apresentação com as primeiras medidas do Brasil contra a crise e as políticas de governo que colocam o país em situação menos vulnerável: democratização do crédito, fortalecimento do Estado e dos bancos públicos, programas de distribuição de renda e de valorização dos salários, desdolarização da dívida pública, aumento das reservas internacionais, investimentos em infra-estrutura e incentivos ao setor produtivo, entre outras.

“O país realmente trabalhou nestes anos e se preparou para enfrentar situações difíceis”, afirmou Mantega. “Desde o início nos preparamos para um novo ciclo de desenvolvimento. Reintroduzimos essa agenda. Temos uma nova forma de crescimento, com mais emprego e distribuição de renda (...) e uma nova forma de ação do Estado, que volta a ser protagonista (...); temos a redução da vulnerabilidade externa, a inflação sob controle e a construção de um mercado de massa – talvez o mais importante. Isso estava no nosso programa de governo de 2002. Hoje é uma realidade, existe”.

O ministro também lembrou os problemas vividos pelo Brasil em crises anteriores, “que eram de bilhões, não de trilhões”, e de como o cenário mudou. “Hoje estamos muito mais fortes do que nas crises vividas nos anos 90, que eram periféricas, não estavam no centro do sistema capitalista. Mesmo assim, o Brasil balançou em todas elas porque estava fragilizado. Imaginem se tivéssemos a crise de hoje nas condições de ontem. Já estaríamos de joelhos”.

A fala de Marco Aurélio Garcia seguiu o mesmo raciocínio e explicou que a rede de proteção criada pelo Brasil é importante porque hoje, diferentemente do que aconteceu em 1929, a crise tem se alastrado muito mais rapidamente para a “economia real”.

“Em 29, a crise levou meses para se propagar. A crise atual leva horas e, às vezes, minutos. Declarações recentes do Paulson (Henry Paulson, secretário do Tesouro norte-americano) meia hora depois estavam derrubando a bolsa de São Paulo. Vivemos na realidade do capital insone, que não dorme nunca. Sempre existe uma bolsa aberta ou um grupo de especuladores acordado”, disse.

Batalha de idéias e protagonismo brasileiro
Além das boas condições que o Brasil apresenta, Marco Aurélio acredita que a redução dos impactos da crise nos próximos anos também vai depender dos acertos da política econômica interna. Respondendo a questionamentos do plenário sobre a taxa Selic praticada pelo Banco Central, ele disse acreditar que a eficácia da política econômica será maior se houver uma redução efetiva dos juros. “É inclusive uma recomendação do G20”, comentou.

Também será decisiva, na avaliação de Marco Aurélio, a capacidade da esquerda em enfrentar a “grande batalha de idéias” entre os que defendem mudanças no modelo e os que insistem no mantra neoliberal.

“Hoje não estamos tirando grande proveito dessa batalha. É preciso deixar claro que o que desmoronou não foram as nossas teses, mas as idéias neoliberais (...). Faltou Estado, faltou política econômica. O que fracassou foi a estrutura financeira internacional (...). O extraordinário é de que essas pessoas (as que pregam o neoliberalismo) continuam insistindo nas mesmas receitas que nos conduziram a essa situação”, disse.

Para ele, o primeiro reconhecimento desse fracasso foi a substituição do G8 (só países ricos) pelo G20 (países ricos e principais emergentes, entre eles o Brasil) como a instância que deverá regulamentar o capitalismo e dar mais transparência às relações internacionais daqui em diante.

O fortalecimento do G20 também foi citado por Mantega como prova de que mesmo os países ricos, que conduziram o mundo para o desastre do neoliberalismo, já concordam com uma mudança de modelo. “Em Washington, eu procurei, mas não encontrei nenhum liberal”, brincou, referindo-se ao último encontro realizado pelo grupo, nos EUA.

“Ao contrário do Marco Aurélio, acredito que a disputa ideológica vai ser relativamente fácil. O setor público salvou o privado, este é o fato. No G20 vamos fazer propostas de regulamentação do sistema. Isso significa uma nova ordem econômica mundial. O G20 promoveu os emergentes a protagonistas. Temos a chance de reorganizar a economia mundial”, disse, lembrando do respeito com que o Brasil e o presidente Lula têm sido tratados nestes encontros multilaterais.

“Quando o Brasil participa das reuniões do FMI, o país tem o respeito total nas suas iniciativas e propostas. A relação hoje é outra: o país protesta e é ouvido”, assegurou o ministro. Para Mantega, a insistência nas fórmulas neoliberais – principalmente por parte de colunistas da grande imprensa – não encontra mais respaldo na realidade. “Hoje há consenso mundial de que isso não serve mais”, concluiu.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Bolsas do ProUni serão ampliadas no primeiro semestre de 2009

O Ministério da Educação anunciou a oferta de 156.416 bolsas de estudos do Programa Universidade para Todos (ProUni) para o primeiro semestre de 2009. São 95.694 bolsas integrais e 60.722 parciais, de 50% da mensalidade. As inscrições podem ser feitas até 12 de dezembro.

Podem se candidatar às bolsas do ProUni os estudantes que concluírem o ensino médio este ano ou que o completaram em anos anteriores; que tenham feito o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em 2008 e obtido no mínimo 45 pontos de média entre a prova objetiva e a de redação. Os candidatos devem, ainda, atender uma série de critérios. Entre eles, ter feito todo o ensino médio em escola pública ou, na condição de bolsista integral, em escola particular.

As bolsas integrais destinam-se a estudantes com renda familiar, por pessoa, de até um salário mínimo e meio (R$ 622,15); as parciais, aos com renda familiar, por pessoa, de até três salários mínimos (R$ 1.245).

De acordo com a coordenadora-geral de projetos especiais para a graduação da Secretaria de Educação Superior (Sesu), Paula Branco Melo, a oferta de bolsas de estudos do ProUni cresceu 47% em relação ao primeiro semestre de 2007. No ano passado, o MEC ofereceu 106 mil; agora, são mais 156 mil. No caso das bolsas integrais, o índice de aumento, segundo Paula, foi ainda maior com relação ao mesmo período — subiu de 53 mil para 95 mil.

Na avaliação de Paula, os dados demonstram que o programa está consolidado e em expansão. Do início de 2005, quando foi realizada a primeira seleção de bolsistas, até hoje, o ProUni atendeu 430 mil cidadãos em todos os estados e no Distrito Federal.

Na página do ProUni, o estudante encontra a ficha de inscrição, informações detalhadas do Programa, tais como critérios e renda, e o número de vagas por estado e por instituição de educação superior, os cursos, os turnos das aulas e os tipos de bolsas.

Enem

Para saber a nota do Enem 2008, o estudante deve consultar a página eletrônica do Programa. Ali ele pode obter a nota usando um entre três caminhos: com o número do CPF (Cadastro da Pessoa Física), com o número de inscrição no exame ou escrevendo o nome completo, data de nascimento e o estado da federação onde reside. Pode, ainda, aguardar o boletim de desempenho que chegará à casa do aluno pelos Correios. Fizeram as provas do Enem este ano, 2,9 milhões de pessoas, das quais, 1,1 milhão concluem o ensino médio em 2008.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Homens unidos pelo fim da violência contra as mulheres

Associada às campanhas mundiais do Secretário Geral da ONU e Laço Branco, a campanha brasileira Homens Unidos pelo Fim da Violência contra as Mulheres, visa o engajamento de homens em prol de uma sociedade mais justa e igualitária, fundada em princípios de eqüidade de gênero e no respeito às convenções e tratados internacionais relativos aos direitos das mulheres.

Acesse o site http://www.homenspelofimdaviolencia.com.br/ e participe da campanha.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Jornal americano enaltece Lula e diz que ele poderá dar boas lições a Obama

Quando o presidente eleito dos Estados Unidos, Barack Obama, e o presidente brasileiro, Luiz Inácio da Silva, se encontrarem, pode ser que o presidente Lula é quem acabará "ensinando a Obama uma ou duas coisas", diz um editorial desta quarta-feira do jornal americano The Christian Science Monitor.

O editorial, intitulado "O Obama do Brasil", destaca o que considera pontos comuns entre os dois líderes, afirmando que "como Barack Obama, o presidente do Brasil veio da pobreza e da esquerda política e chegou ao poder.Mas durante seis anos no cargo, ele (Luiz Inácio Lula da Silva) governou do centro, aproveitando os pontos fortes do mercado do Brasil, conquistando o respeito mundial".

The Christian Science Monitor afirma que uma série de reportagens sobre o Brasil que o jornal publica esta semana mostra que o país passou de "gigante adormecido" para um país mais ativo "graças, em grande parte, à adoção por (Luiz Inácio Lula) da Silva de soluções práticas que agradam os investidores globais e também a maioria dos brasileiros", lembrando que "os índices de popularidade dele são muito altos".

"Em muitas áreas, tais como agricultura, política social e diplomacia, o Brasil agora serve como modelo para outros países, especialmente da África", diz o editorial, mencionando o programa bolsa-escola como exemplo de "uma política inovadora que une políticos da esquerda e da direita".

Líder regional

Sobre suas relações com o mundo, o jornal menciona a reunião do último fim-de-semana do G20 em São Paulo, em que Lula "repreendeu os Estados Unidos por sua responsabilidade na crise financeira global, que também está afetando o Brasil".

Mas ressaltou que "mais do que criticar, o ex-líder sindical e fundador do Partido dos Trabalhadores também advertiu os países contra recorrer ao protecionismo comercial". O jornal observa que "Obama quer reformular o Nafta (tratado de livre comércio entre EUA, México e Canadá)".

Lembrando que o ministro Assuntos Estratégicos brasileiro, Roberto Mangabeira Unger, foi professor de Obama na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, o jornal afirma que "o filósofo manteve contato com Obama e pode servir como um elo no que pode ser uma poderosa parceria para o Hemisfério Ocidental".

Por enquanto, "o Brasil está tendo um bom desempenho como líder regional", de acordo com The Christian Science Monitor. A presença militar brasileira no Haiti a serviço das Nações Unidas, sua participação em "acalmar a ameaça de guerra entre Colômbia e Venezuela" e as relações com a Bolívia também são mencionados no editorial.

The Christian Science Monitor conclui que se o presidente brasileiro "conseguir manter um nacionalismo saudável, ele vai encontrar um parceiro em Obama em questões que vão de energia a segurança".

"O ex-líder sindical e o ex-coordenador comunitário, ambos sabem como negociar um acordo em prol do bem comum".

"Como (Luiz Inácio Lula) da Silva e Obama, Estados Unidos e Brasil têm coisas demais em comum para não compartilhar a liderança regional e global", diz o editorial.


IG

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Lula reafirma que sistema financeiro internacional precisa de regulação

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a afirmar nesta segunda-feira (10) que o sistema financeiro internacional precisa de regulação dos Estados e que não deve ser visto como um “cassino”. Em seu programa semanal Café com o Presidente, ele destacou que os países devem acumular riquezas com a geração de emprego e renda e não apenas com a especulação.

“Sabemos de onde veio a crise, sabemos o que foi que gerou essa crise e sabemos que o sistema financeiro internacional tem que ter um certo controle do Estado. Tudo na vida é regulado. O que queremos é que o sistema financeiro exista cada vez mais forte para ajudar o desenvolvimento do país, da indústria e da agricultura.”

Lula afirmou ainda esperar que no próximo encontro do G-20 – grupo composto pelas maiores economias mundiais – em Washington, possam ser discutidos temas como a atuação da Organização Mundial do Comércio (OMC) e a Rodada Doha. Ele afirmou ter consciência de que a reunião não vai definir “tudo o que precisamos que defina” mas que caracteriza “um início extraordinário” para que chefes de Estado assumam a responsabilidade de trazer para si a discussão de soluções futuras capazes de evitar outras crises.

Ao comentar a viagem à Itália, Lula afirmou que terá “uma forte agenda empresarial” que inclui encontros com uma delegação de empresários brasileiros e uma de empresários italianos. A idéia, segundo ele, é discutir possibilidades de investimentos no Brasil. Lula irá reunir-se também com o primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, e pelo presidente do país europeu, Giorgio Napolitano, além de um encontro com políticos da oposição com o Papa Bento XVI para assinar um acordo entre Brasil e Vaticano.

“Vou fazer uma convocação para que os países ricos coloquem mais dinheiro para ajudar os países pobres como, por exemplo, o Haiti e os países africanos. Precisamos ter a consciência de que ou os países mais ricos ajudam os países mais pobres a se desenvolver ou vamos enfrentar um problema muito sério de migração”, alertou.

Fonte: Agência Brasil

Cadê os Tucanos?

Base governista se ausenta do Congresso de Comissões

A base de sustentação do governador José Serra impediu a realização do Congresso de Comissões, convocado pelo presidente Vaz de Lima, para acontecer hoje (6/11), às 10 horas, com a possibilidade de uma segunda convocação às 11h, caso não ocorresse quórum, quando os deputados analisariam as emendas de plenário aos projetos enviados pelo Executivo sobre as demandas da Polícia Civil do Estado.

Pela manhã, no horário definido representantes de 15 entidades do segmento da Polícia Civil e os deputados do PT dirigiram-se ao plenário. No entanto, nenhum deputado do PSDB ou de outro partido da base aliada compareceram à reunião, em nenhuma das duas convocações.

Com a ausência dos deputados da base aliada do governo José Serra, os representantes fizeram uma reunião com os deputados do PT para avaliar a situação.

Todos os líderes do movimento grevista foram unânimes em afirmar a posição da categoria de permaneceram em greve e receberam o apoio dos deputados do PT que reafirmaram a disposição de manter a obstrução às propostas do governo que não atende as necessidades dos trabalhadores que integram o sistema de segurança do Estado de São Paulo.

Coletiva censurada

Ontem à noite, o presidente da Assembléia convocou a imprensa a uma entrevista coletiva com a presença dos secretários Sidney Beraldo, da Secretaria da Gestão Pública, e Ronaldo Marzagão, da Segurança Pública, para anunciarem novas iniciativas do Executivo aos projetos emitidos ao Legislativo, com relação aos pleitos dos policiais.

Embora os deputados do PT estivessem na Casa, a presidência em nenhum momento informou que os secretários viriam ao Legislativo e nem que se tratava de emendas aditivas de autoria do governador José Serra aos projetos 59,60 e 61, que prevê a antecipação do reajuste de 6,5% de janeiro de 2009, para ser efetuado a partir do mês de novembro.

Outro fato que provocou protestos e repúdio dos deputados do PT, foi o impedimento dos jornalistas da Bancada do PT e dos policiais, acompanharem a coletiva e obterem a informação de interesse público, quando aos procedimentos e propostas do governo.

O líder do PT, deputado Roberto Felício, disse em plenário que a atitude do presidente da Assembléia foi um gesto de subserviência ao governador e emendou que “houve um desrespeito ao Poder Legislativo e as regras institucionais”.

Quanto a proposta de antecipação do pagamento dos 6,5%, Felício considerou a proposta insuficiente e apontou a expectativa é da elevação dos valores do contra-cheque dos trabalhadores.

Fonte: www.ptalesp.org.br

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Com Obama, Lula espera mais atenção à América Latina e fim do bloqueio à Cuba

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva classificou a eleição e Barack Obama como um “feito extraordinário” e disse esperar que o futuro presidente norte-americano sele a paz no Oriente Médio, acabe com o bloqueio econômico a Cuba e dê mais atenção à América Latina e a todos os países pobres.

O democrata se tornou o primeiro presidente negro eleito dos Estados Unidos na madrugada desta quarta-feira (5).Ele precisava de 270 votos no colégio eleitoral para ganhar as eleições presidenciais, uma marca que superou por ampla margem, ao obter ao menos 342 votos, frente a 143 de seu adversário, o republicano John McCain.

Lula lembrou que "ganhar uma eleição" é diferente "de governador os EUA". "Eu acho que a vitória de Obama representa o reconhecimento do significado de quem duvidava que um negro poderia ser eleito nos EUA. E agora sabe que pode."

O presidente brasileiro afirmou que a eleição de Obama só foi possível porque a sociedade se manifestou num regime democrático. "É um feito extraordinário, a eleição de um primeiro negro na história dos EUA. Sobretudo uma pessoa que tem demonstrado a competência política do futuro presidente Obama."

Lula não escondeu que guarda uma série de expectativas positivas em torno da gestão de Obama. "Espero que ele tenha uma relação mais forte com a América Latina, América do Sul e África, e tenha a possibilidade [de selar] um acordo de paz no Oriente Médio, onde faz décadas e décadas que se tenta um acordo e não se consegue", disse.

O presidente brasileiro afirmou também estar confiante que será construída uma "parceria construtiva" com os Estados Unidos nos próximos anos. "Espero que tenha uma política mais voltada para o desenvolvimento produtivo para a América Latina. É preciso que os Estados Unidos continuem uma política mais ativa em relação à América Latina, uma vez que durante toda a década de 60 e 70 você tinha a Guerra Fria, quando os Estados Unidos mantinham uma visão de luta contra guerrilhas na região. Agora mudou, a democracia consolidou-se com a América Latina."

Lula espera que Obama execute uma política com vistas ao "desenvolvimento e investimento nos países mais pobres, ao fim dos subsídios e ao fim do bloqueio a Cuba". Segundo ele, não há razões para manter a política econômica restritiva a Cuba. "Não há nenhuma explicação para isso."

A Dimensão Política da CRISE


Em artigo publicado pela Folha de S. Paulo (24/10/2008), Rubens Ricupero, ex-ministro da Fazenda e ex-secretário geral da Unctad, observa, a propósito da crise financeira, que “as análises falam de tudo, menos de moral e de política. Dão a impressão de que o problema se limita a aspectos técnicos, sem vinculação com os valores éticos e independentes das relações de poder”.

De fato, não há como compreender o colapso sem remontar à mudança na correlação de forças na sociedade, ao longo das décadas de 1970, 1980 e 1990, entre grupos e classes dentro de cada país e entre estes e atores externos, mudança que acabou por conferir uma nova expressão institucional ao Estado. É dizer que a transferência de ativos e de capacidades de decisão do Estado para a iniciativa privada, a eliminação dos controles, a desregulamentação do trabalho, o desmantelamento da rede de proteção social, a contração do gasto público em políticas sociais, a redução de impostos sobre os ricos, a preeminência conferida à economia fictícia (financeira) sobre a economia real (da produção) – tudo isso se constitui em expressão de uma determinada modalidade de organização da vida econômica - agora em frangalhos geotectônicos -, somente compreensível à luz de uma nova relação entre Estado e mercado, resultante de um novo sistema de poder associado a ela.

Aí está a dimensão política da crise, de que fala Ricupero. Sem ela, não é possível compreender como nos Estados Unidos, por exemplo, a participação do setor financeiro no total dos lucros corporativos tenha saltado de 10% em 1980 para 40% em 2006, apesar de gerar apenas 5% dos empregos, enquanto a participação dos salários na renda nacional declinava. “Não se avança sobre quase metade dos lucros da economia sem contar com a cumplicidade do sistema político. A mudança de poder que abriu o caminho à hegemonia financeira foi, nesse período, a ‘revolução’ neoconservadora de Reagan e de Thatcher...”, acrescenta.

A nova configuração na distribuição e apropriação do excedente social somente se tornou possível mediante as profundas mudanças promovidas nas relações de poder na sociedade, e disso ela é expressão. O redesenho e o controle da rede institucional do Estado, que daí resultaram, postos a serviço do capital financeiro, expressam o que vem a ser o poder político em termos singelos – a capacidade de convencer ou obrigar os outros a fazer algo que não estava em sua intenção fazer, ou abster-se de algo que gostariam de fazer.

Isso se torna possível quando se concentram e mobilizam recursos de natureza variada, incluídos os de caráter econômico. Como resultado da mudança na distribuição e no uso dos recursos, mudam as relações entre indivíduos e grupos sociais, assim como mudam a sua posição relativa na hierarquia, a sua capacidade de ação e de imposição de objetivos e metas.

Eis a grande reestruturação, agora à beira do colapso, que gerou ganhadores e perdedores. Estes são fáceis de identificar na configuração política que resultou da redistribuição dos recursos em termos de eqüidade social e de poder sobre a máquina do Estado. Em primeiro lugar, o maior peso atribuído ao mercado pelos reformadores neoliberais implicou transferência de poder, das instituições do Estado para os atores que dele se apropriaram, com vistas a impedir que a sociedade, por mediação do Estado, lhes impusesse cobro no exercício da liberdade individual, concebida pelos neoconservadores como incompatível com toda e qualquer modalidade de controle e responsabilidade social – selvageria ideológica travestida de “empreendedorismo”, “capacidade de iniciativa”, “criatividade”, “inovação”.

Em segundo lugar, como resultado da preeminência dos interesses do mercado sobre a sociedade e o Estado, enfraqueceram-se os mecanismos de negociação, de organização e de mobilização dos movimentos sociais, já debilitados politicamente pela crise do desemprego e da estagnação econômica, que se agravava desde a segunda metade da década de 1970.
Além de propiciar o aumento da concentração da renda e a distribuição desigual dos custos e benefícios das políticas de recomposição das finanças públicas, o debilitamento do controle social sobre o Estado, em favor das elites neoconservadoras, provocou o esvaziamento das políticas sociais, que até então haviam caracterizado e legitimado a gestão pública, ainda que de eficácia incerta.

O discurso neoconservador, que passou a inculpar o Estado de Bem-Estar social pelos excessos distributivos do Estado - o mesmo Estado que durante 30 anos havia assegurado a estabilidade e o crescimento econômico revigorado por políticas sociais -, alcançou notável aceitação, graças à cooptação dos grandes meios de comunicação, em especial no caso do Brasil. Uma vez derrubado o muro de Berlim, os direitos sociais e a organização do trabalho, anteriormente brandidos como apanágio do mundo livre, passaram a ser estigmatizados em nome da democracia, da eficácia econômica e do livre mercado.

Na estratégia dos reformadores, o papel do Estado deveria restringir-se ao nível mínimo de provisão de bens públicos, estes interpretados em sentido restritivo. E, para desmantelar os instrumentos de intervenção, que haviam servido ao Estado de Bem-Estar, foi necessária uma prévia concentração de poderes decisórios em seu aparato institucional, imprescindível para impor a desregulamentação, a abertura e a entrega de funções essenciais do Estado à iniciativa privada; vencer as resistências democráticas em defesa do diálogo e da negociação e alterar o equilíbrio preexistente.

Para tanto, impunha-se a retração da gestão pública no terreno da economia e das políticas sociais, para confiar a execução da justiça distributiva à mão invisível do mercado. Somente assim, a mão neoconservadora pôde exercitar-se, depois de ter imposto a sua hegemonia no controle do Estado e de se ter apropriado de suas funções coercitivas, para a realização dos novos objetivos anti-sociais. De então em diante, caberia ao mercado, de modo excludente, na sua suposta condição soberana de matriz da riqueza, da eficiência e da justiça, promover a alocação dos recursos, distribuir bens, serviços e rendas e remunerar empenhos e engenhos.


A manifestação mais freqüente da ampliação da soberania estatal sob domínio neoliberal – ou seja, da ampliação da capacidade do Estado de impor decisões com autoridade suprema sobre a população e o território – foi a concentração do poder no âmbito do governo central, em especial o Poder Executivo, que passou a absorver prerrogativas do Parlamento, legislar por instrumentos de exceção ou de emergência, e dos tribunais. Truculência quando necessário – é o que exigia o teor anti-social das reformas.

Não se pode esquecer de que, entre outros botins, estava em jogo a disputa pela apropriação e controle de ingentes fundos sociais, como as contribuições dos sistemas de pensões e aposentadorias, sob gestão estatal. Por isso, os promotores das reformas, ao mesmo tempo em que festejavam a falência do totalitarismo soviético, lançavam mão de recursos extremos de concentração de poder.

Assim é que, enquanto na Argentina o presidente Carlos Menem recorria a medidas de exceção, como decretos de emergência, para entregar os fundos públicos da previdência à iniciativa privada, no Chile o general Augusto Pinochet, ao suspender os direitos democráticos e impor uma ditadura sangrenta, promovia a privatização radical do sistema previdenciário, cujo controle confiou às finanças internacionais.

A previdência social brasileira teria tido o mesmo destino, não fossem os movimentos sociais a barrar o intento do governo FHC de privatizá-la, motivo por que a reforma, entre nós, limitou-se a restaurar as finanças públicas sem que a mão do mercado pudesse apropriar-se da poupança dos trabalhadores, como prescreviam, a mando das finanças globais, o FMI e o Banco Mundial.

A diferença na qualidade dos resultados referentes às reformas da previdência colhem-se agora, no calor da crise financeira atual. A variação dos impactos da crise sobre o sistema previdenciário dos países da América Latina, entre outros, reflete a variação na capacidade de luta dos trabalhadores de cada um deles na defesa de seus interesses contra a voracidade neoliberal dos governantes associados à “mão invisível”. Assim, por exemplo, as perdas no valor dos fundos de aposentadoria chilenos, sob controle das finanças internacionais, que haviam atingido 25% em setembro, estão na iminência de ultrapassar 40% em outubro, enquanto na Argentina as perdas atingiram mais de 40%, o que levou o governo Kirchner a reestatizá-lo. Para não falar da Islândia, país modelo das reformas neolilberais, onde as perdas dos aposentados já ultrapassam 70%. Já no Brasil, graças à resistência dos trabalhadores contra as investidas privatizantes de FHC, as perdas são nulas.

A crise financeira, como lembra Ricupero, é de natureza política, gera ganhadores e perdedores e convida a uma nova distribuição de poder, que queremos menos desigual e mais eqüitativa, como condição para a estabilidade econômica, a expansão do emprego e o fortalecimento da democracia. Isso somente se assegura mediante a vigilância e a defesa da sociedade organizada contra as ameaças recorrentes de retorno dos neoliberais ao poder.

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Governo Serrra faz descaso com a Polícia Civil

Secretários de Serra não comparecem à audiência pública com policiais

“A ausência de representantes do governo na audiência é mais um desrespeito do governador com os policiais, com a Assembléia Legislativa e com o povo paulista”, definiu o líder da Bancada do PT, Roberto Felício, ao comentar sobre a ausência dos secretários de Estado da Segurança, da Gestão Pública e da Fazenda na audiência pública que debateu os projetos de lei para as polícias, nesta quinta-feira (30/10).

No entanto, Roberto Felício esclareceu que “a Bancada do PT solidária e compromissada com a luta dos policiais do Estado de São Paulo está apresentando 18 emendas” aos cinco projetos de lei complementares (57, 58, 59, 60 e 61/2008), enviados à Assembléia Legislativa pelo Executivo e que tratam das carreiras das polícias civil, militar e técnico-científica. Entre eles, o que prevê o reajuste salarial de apenas 6,5% para janeiro de 2009 e 6,5% para 2010.

Entre as emendas petistas está a que determina o cumprimento da data-base de 1º de março e a que estipula o reajuste salarial dos policiais civis em 15% para 2008; 12% para 2009 e 12% para 2010. (leia no final da página “em anexo” as emendas do PT)

Entidades exigem respeito

Com a presença de cerca de 300 policiais, 16 representantes de entidades apontaram os problemas encontrados nos projetos de lei complementares do governo. O diretor da Associação dos Praças da PM, Sargento Neto, enfatizou que os policiais “exigem do governo do Estado e dos deputados a valorização da nossa carreira, o cumprimento da nossa data-base, a incorporação das gratificações aos salários, a democratização das instituições e condições dignas de trabalho”.

Neste mesmo sentido, Hilkias de Oliveira (Associação da Polícia Civil), João Rebouças Neto (Sindicato dos Investigadores) e Valter Onorato (Associação dos Escrivães) pediram a valorização dos policiais e apelaram aos deputados da base aliada do governo para que aprovem as emendas propostas pelas entidades, que foram encaminhadas pela Bancada do PT.

"O PSDB faz uma política de arrocho para os servidores e pedimos que aos parlamentares dessa Casa que não deixem que os policiais de São Paulo sejam humilhados com o menor salário entre todos os Estados”, salientou Hilkias de Oliveira.

O representante da Associação dos Bombeiros, Antonio Carlos, fez um apelo ao presidente da Assembléia, o tucano Vaz de Lima, para que abra um canal de diálogo com o governador José Serra. “Leve-nos ao governador José Serra para que essa guerra termine hoje”, afirmou o bombeiro.

Neste mesmo sentido, Marcos Flores da Federação das Associações de Policiais Militares, também pediu ao deputado tucano uma audiência para discutir com o governador ou seus secretários a reestruturação das carreiras policiais.

“Mais uma vez o governador esconde a cara”

“Ou o governo Serra abre mão de seu autoritarismo e aceita as emendas que o PT está propondo ou a greve vai continuar”, disse o deputado Adriano Diogo. Segundo o petista, é praxe da base governista na Assembléia aprovar os projetos sem as emendas e “com isso nós não vamos concordar”. “Não ter nenhum secretário presente aqui hoje, é uma afronta que o governador José Serra nos faz. Mais uma vez o governador esconde a cara”, afirmou Adriano Diogo.

O deputado Enio Tatto, líder da Minoria, explicou que é muito fácil entender a revolta dos policiais ao se verificar os números do orçamento dos tucanos: “O orçamento do Estado de São Paulo em 1998 era de R$ 38,9 bilhões e, com uma média de crescimento de 7% a 8% por ano, chega a 2009 com um orçamento previsto de R$ 116 bilhões. Enquanto isso, nestes dez anos (1998 a 2008), os policiais não tiveram reajuste em cinco anos e nos outros cinco anos os reajustes foram abaixo do IPC, que teve média em torno de 3% ao ano”. “É essa a política do PSDB de valorização dos servidores”, finalizou Tatto.

Para o deputado Carlinhos Almeida, o movimento dos policiais é um alerta para toda a população e para os deputados do descaso com que o governo Serra tem com a polícia. “É preciso colocar o dedo nesta ferida. É um ferida que está aberta no Estado de São Paulo há muito tempo”, salientou Almeida.

“Essa greve já produziu um fato histórico: outros Estados, entre eles Paraná, Minas Gerais e Brasília, já estão mobilizando um greve nacional em solidariedade à policia civil de São Paulo”, enfatizou o deputado Hamilton Pereira que lembrou também que “mais do que por salários, os policiais brigam por dignidade”.

O deputado Zico Prado propôs ao líder do PSDB, Samuel Moreira, para formar uma comissão de parlamentares para ir até o governador José Serra na busca do diálogo e da negociação. “É preciso que se saía desta audiência com uma proposta e ação definida para não ser apenas mais uma audiência pública que o governo fica de ouvidos tampados”, esclareceu o parlamentar petista.

Porém, até o final da audiência não houve nenhuma manifestação do deputado tucano sobre a proposta de Zico Prado.

Também os petistas Cido Sério, Marcos Martins, Rui Falcão, Ana Perugini e Simão Pedro fizeram uso da palavra e expuseram a necessidade da recuperação dos salários dos policiais e uma condizente valorização de suas carreiras. Eles disseram estar solidários com as reivindicações da categoria e demonstraram indignação com a falta disposição do governo do Estado para uma negociação.

Nas suas considerações, Cido Sério lembrou que São Paulo tem a melhor polícia da Brasil, no entanto, recebe o menor salário. Já Marcos Martins comentou que, mesmo em greve, a polícia civil prendeu quadrilha que fraudava licitações na área da saúde.

Rui Falcão, por sua vez, trouxe à discussão a informação de que tem ocorrido um decréscimo no custeio dos serviços públicos na gestão tucana no Estado de São Paulo.

A deputada Ana Perugini descreveu as condições precárias das delegacias e lembrou que em muitas cidades do interior o aluguel onde ficam sediadas é bancado pela prefeitura e que é comum o cenário de amontoados de papéis e inquéritos em poltronas, por falta de espaço e condições adequadas de trabalho.

Por último pronunciou o deputado Simão Pedro que fez apelos ao líder do governo na Assembléia para o diálogo e ponderou que o governo erra ao apostar no desgaste do movimento. “O setor está muito determinado e aguerrido, o governo não deve apostar que vencerá o movimento pela pressão e cansaço", salientou Simão Pedro.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Ato abre embates contra SERRA (PSDB)


No dia seguinte às eleições municipais, sindicatos e associações de policiais civis em greve desde 16 de setembro prometem dias de embate com o governo do Estado para pressionar o avanço nas negociações por melhores salários e planos de carreira para a categoria.

O primeiro ato aconteceu na tarde de ontem. Sete mil policiais civis, segundo estimativa dos organizadores, paralisaram o centro de São Paulo numa caminhada que começou na Praça da Sé e seguiu até a sede da Delegacia Geral de Polícia, na Rua Brigadeiro Tobias, passando pela Secretaria Estadual de Segurança Pública.

“A quantidade de pessoas na manifestação é importante para mostrar que o movimento não tinha fim eleitoreiros. Queremos ver agora qual vai ser a desculpa do governador para justificar a greve dos policiais civis”, repetia o presidente do Sindicato dos Investigadores da Polícia Civil, João Rebouças.

Nos próximos dias, os policiais civis prometem marcação cerrada à agenda do governador José Serra (PSDB), seguindo a estratégia dos policiais de Bauru, no interior do Estado. Na sexta-feira, policiais civis interpelaram o governador em visita à cidade. A mesma estratégia deve ser seguida em outros locais do Estado.

Amanhã, representantes de sindicatos e associações de todo o Brasil prometem paralisação nacional em apoio ao movimento paulista. Ainda foi marcada para quinta-feira audiência pública na Assembléia Legislativa de São Paulo para discutir com os deputados projetos para a reforma da polícia. A base da categoria pressiona ainda para que ocorra uma nova manifestação em frente ao Palácio dos Bandeirantes, sede do governo do Estado, idéia por enquanto rechaçada pelas lideranças.

O Palácio dos Bandeirantes foi o local do confronto histórico entre policiais civis e militares, ocorrido no último dia 16. Na manifestação de ontem, a situação foi tranqüila e não houve tumultos graves. Até o padre Renato Cangianeli, pároco da Catedral da Sé, foi chamado no carro de som para rezar um Pai Nosso e pedir calma aos manifestantes.

Uma pequena confusão aconteceu na Rua Xavier de Toledo, na esquina com o Viaduto do Chá, quando motoboys se irritaram por causa da paralisação no trânsito. Houve empurra-empurra, mas a caminhada seguiu sem problemas.

Um pouco adiante, na Rua Conselheiro Brotero, policiais militares que organizavam o trânsito chamaram a atenção dos integrantes da passeata. Enquanto alguns os aplaudiam, outros faziam gestos obscenos. Depois de se comunicarem por rádio, os PMs deixaram rapidamente o local, sendo substituídos por Guardas Civis Metropolitanos.

Rivalidade histórica - Desta vez, a PM não acompanhou a passeata. A rivalidade entre as duas corporações, contudo, ficou evidente em alguns momentos da manifestação. A Tropa de Choque e os PMs eram hostilizados a todo momento pelos manifestantes da Polícia Civil.

Informações: Jornal da Tarde

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

PT apóia grevistas da Polícia Civil

PT apóia grevistas da polícia civil e apresentará emendas ao projeto do governador
Bancada do PT na Assembléia

Em concordância com a reivindicação salarial dos policiais civis, que considera justa, a Bancada do PT apresentará emendas ao projeto de lei encaminhado pelo governo Serra, para atender a expectativa dos policiais: reajuste de 15% em 2008 (retroativo a março), 12% em 2009 e 12% em 2010.

A afirmação foi feita pelo líder da Bancada, deputado Roberto Felício, nesta quinta-feira (23/10), na tribuna do Plenário Juscelino Kubistchek, onde a galeria estava completamente lotada por cerca de 400 policiais que compareceram à Assembléia Legislativa para um protesto contra o projeto de lei encaminhado pelo governador José Serra. O projeto do governador prevê reajuste de apenas 6,5% para o ano de 2009 e 6,5% para 2010.

“O PT vai fazer as emendas porque tem compromisso moral e ético com o movimento dos policiais. Mas vocês (dirigindo-se aos policiais na galeria) contam apenas com 23 deputados da oposição para a aprovação e terão que passar de porta em porta nos gabinetes dos 71 parlamentares da base do governo solicitando apoio, senão o projeto não vai ser aprovado em Plenário”, advertiu o líder petista. Com a maioria absoluta dos deputados em sua base, o governo do Estado consegue aprovar na Assembléia Legislativa todas as suas propostas.

Dinheiro tem, falta vontade política

Comprovando com os números da proposta orçamentária encaminhada pelo governador José Serra para 2009, o líder da Minoria, o petista Enio Tatto, disse que “dinheiro tem, o que falta é vontade política do governador Serra com o funcionalismo”.

Tatto explicou que o orçamento do Estado cresceu 19,94% em relação ao ano passado, no entanto, para a área de segurança há um aumento de apenas 16,5%. “Isso demonstra como o governo tucano coloca a questão da segurança em segundo plano”, destacou o deputado e completou “o orçamento de Serra só aumenta para ele fazer publicidade, para divulgar as suas mentiras e ter na mão a imprensa”.

O líder da Minoria também informou que o PT protocolou pedido de audiência pública, na terça- feira (21/10), com os secretários de Segurança, Gestão Pública e Fazenda, na Comissão de Finanças e Orçamento, para que eles expliquem porque o governo não dá o aumento aos policiais, “mas a base governista impediu”, a votação do requerimento naquele dia.

Hoje (23/10), após a manifestação dos policiais, o presidente da Casa decidiu pela realização da audiência pública no dia 30/10, às 14h30.

Governo não respeita data-base dos servidores

“O governador Serra não respeita a data-base dos servidores públicos (março) que foi aprovada nesta Casa. E se o governador não respeita a lei, como ele vai exigir que o funcionalismo cumpra a lei”, salientou o deputado Zico Prado. Para ele, o governo tucano não reconhece o que ele tem mais sagrado, que é o funcionalismo. “Essa é a política do PSDB”, destaca o deputado.

Se solidarizando com o movimento dos policiais civis, o deputado Simão Pedro classificou de “vexatória” e “vergonhosa” a situação salarial da categoria. “O governador Serra ao invés de estabelecer uma negociação, envia para a Assembléia um projeto que com essa ‘migalha’ de reajuste e ainda só para o ano que vem”, indignou-se Simão.

O deputado Adriano Diogo enfatizou que a culpa pela situação, tanto salarial, como do confronto entre as polícias militar e civil (em 17/10) “é de uma só pessoa: José Serra”. Para o petista, “quem quer ser presidente da República e põe para defender com armas uma manifestação política é, no mínimo, irresponsável. Todos os gestos do Serra são magnificamente estudados. Ele age com um ditador”.

“O governador não dará ordem a Bancada do PT”

O líder Roberto Felício, indignado com fato do governador José Serra imputar ao Partido dos Trabalhadores e a ele próprio (Felício), a responsabilidade pelo confronto entre polícia civil e militar em frente ao Palácio dos Bandeirantes em 17/10, afirmou que “o governador não dará ordem a Bancada do PT, que está solidária com o movimento legítimo dos policiais e estará ao lado na manifestação da próxima segunda-feira (27/10), na Praça da Sé”.

Manifestaram-se em Plenário, solidarizando-se com a luta dos policiais civis os deputados do PT: Roberto Felício (líder), Enio Tatto, Simão Pedro, Zico Prado, Adriano Diogo, Cido Sério, Antonio Mentor e Hamilton Pereira.

Manifestações dos policiais civis

Nesta quinta-feira (23/10), a movimento dos policiais civis realizaram manifestações simultâneas em várias cidades do Estado. Na Capital, o ato foi realizado na Assembléia Legislativa, com mais de 500 pessoas. “É uma forma de mostrarmos nossa indignação, com a forma que o Governo trata a categoria”, destacou o presidente da Adpesp – Associação dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo.

No dia 27/10, às 14 horas, na Praça da Sé – Capital – será realizada um grande ato com a presença de policiais de todo o Estado.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Jogada Política do Serra

Estamos em um início de semana muito triste, com o caso de Santo André que terminou com uma dor no corações de todos os brasileiros que acompanhavam, oravam, e que com um carinho muito grande acompanhava o sequestro da menina Eloá Cristina de 15 anos, que morreu após um tiro na cabeça onde a bala ficou alojada no cerebelo. É mais um final de semana triste para nós, que vivemos em uma terra que ainda existe muita violência, desrespeito, e pouco amor ao próximo.
Mais o que não deveria acontecer seria o uso deste triste episódio para fins eleitoreiros. Esse é um momento de dar conforto, carinho e amor aos jovens e famílias envolvidos neste episódio. Mas o que o nosso governador mostrou é que essa é a unica saída para ele, no momento em que vive a crise de segurança e da educação no seu governo. José Serra começou a descer até a cidade de Santo André para fazer declarações, opinar sobre o caso. Para que ele faria isso? Vamos analisar com muita calma, a imprensa inteira esta focada na greve da polícia civil, onde o confronto da polícia militar vs. a polícia civil alimentou ainda mais a espera dos jornalista por notícias extramamente quentes e inéditas, alias este é o trabalho deles e o pensamento mais posítivos deles é que aconteça algo tragíco mesmo para que eles tenham um furo de reportagem. Com esta visita até Santo André José Serra vem conseguindo afastar a mídia da Capital paulista, onde se concentra a greve, onde esta a indignação do momento contra o governador. Isso sim é estratégia eleitoreira para desconcentrar a mídia da greve até onde ele esta, em Santo André.
Mais o que gera isso? Por que é uma estratégia política ?
Resposta Simples, segundo turno em São Paulo, Marta (PT) vs. Kassab (DEM).
Marta Suplicy (PT) candidata do PT apoiada pelo Presidente da República, LULA, o presidente que valorizou a Polícia Federal, o presidente que abriu novos cargos na Polícia Federal e que trabalha como nunca hoje. Kassab, apoiado pelo Governador José Serra (PSDB) governo ao qual tem a grande desvalorização da educaçaõ e da segurança, onde temos os polícias civis com o pior salário do Pais, e isso é que São Paulo é o estado mais rico. José Serra falou no ar a Tv bandeirantes que a culpa da greve era do PT, logo após entrevista de Serra entrou no ar mais um manifestante da greve, onde o apresentador Datena perguntou se ele tinha visto alguém do PT dentro da Greve, o delegado manifestante, desmentiu José Serra, revelando que não teria ninguem do PT dentro da Greve. O delegado André Dahmer, diretor da Adpesp (Associação dos Delegados de Polícia Civil do Estado de São Paulo), negou envolvimento político no movimento grevista e diz que a CUT e a Força Sindical apenas emprestam o carro de som usado nas manifestações. Ainda fez a seguinte fala: "É lamentável ver um governador de Estado como São Paulo falar uma coisa dessas. Ou é porque ele é muito mal informado ou é porque quer ver o circo pegar fogo", afirmou. Dahmer ainda culpou o governo do Estado pelo confronto, que deixou mais de 25 pessoas feridas. "Nós não queremos guerra. O governo não quer diálogo. Ele [governo] quer guerra." O presidente do Sindicato da Polícia Civil de Campinas e região, Aparecido de Carvalho, também responsabilizou o governo estadual pelo confronto. "É uma irresponsabilidade sem tamanho um governador, que se diz democrático, sabendo que homens armados vêm reivindicar salários e dignidade, colocar a PM, que é uma co-irmã, armada, correndo todos os riscos. O saldo disso poderiam ser diversas mortes de policiais." O presidente do sindicato dos investigadores, João Rebouças, acusou a área de Segurança do Estado de falta de comando e de diálogo. Ele disse que o departamento jurídico do sindicato avaliará pedir intervenção federal no setor. "Em vez de apaziguar, ele [governo] jogou mais gasolina no fogo", disse. Isso são relatos e falas de quem realmente esta envolvidos na greve e realmente sabe o que esta acontecendo e o que esta passando.
Mais verdade seja dita, a atual crise da segurança merece um respeito de verdade, José Serra, deveria tomar as negociações desta greve e agir de fato seriamente. Estamos falando de reajuste o qual o próprio governo dele vem desvalorizando ao longo destes anos que se mantém a frente do estado de São Paulo.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Polícia Civil vs. Polícia Militar e o Governo de São Paulo Nada faz

Nos deparamos nesta quinta-feira (16 de Outubro) com a Manifestação da Polícia Civil que esta em greve, manifestando um reajuste salarial por ter o salário mais baixo do Brasil. Temos a melhor polícia civil da América Latina e uma desvalorização tremenda no estado de São Paulo com eles, ou seja, São Paulo é o mais rico estado da federação e um policial civil ganha menos que em qualquer estado do país. Desde Março deste ano os policias vem tentendo negociar o reajuste salarial o qual o governo ofereceu 4,5% de reajuste o que não repõe nem a inflação, e além do mais, esta negociação tem sido igonorada pelo governador sem ter o respeito que de fato merece estas classe trabalhadora a qual trabalha para nossa própria segurança. Estamos falando de SEGURANÇA, a segurança do cidadão paulista que depende desta policia para se sentir seguro na sua própria cidade, na sua casa. Quem paga por esta greve somos nós, acho que o governador José Serra tinha que ter o mínimo de respeito a esta classe trabalhadora e ter uma valorização sim dela. O Lula quando chegou como Presidente do Brasil, valorizou a policia Federal, e hoje temos um excelente trabalho no país, onde vários esquemas de lavagem de dinheiro, tráfico de drogas, entre outros, foram desvendados, e tudo isso ocorreu pela valorizaçaõ da classe e da segurança para nosso país. O mesmo deve ocorrer em São Paulo, temos que valorizar esta classe, que é a melhor polícia civil da América Latina, quer dizer que, eles sempre fizeram um bom trabalho. Estamos falando de uma manifestação onde todos estão armados e são policiais, olha o risco que isso traz, e a ordem dada a Policia Militar de conter estes manifestantes poderia levar a resultados piores do que aconteceu. A Policia Militar atacou os manifestantes com bombas de efeito moral e disparos com bala de borracha, e ainda somou-se mais de 25 feridos e várias viaturas que foram pedrejadas. Enfim pergunto quem perde com tudo isso? Somos Nós!
José Serra, falou que é uma minoria de manifestantes, nao é a minoria e sim 20% do total que é permitido por Lei, quero lembrar aqui que a polícia sai para se manifestar, mais também pensa em garantir a segurança de delegacias onde existem os presos, e que esta greve se estende para o interior também. É facil acompanhar isso, em qualquer cidade nos deparamos com policiais em greve. O que eles querem é negociar, ser ouvidos e não ignorados como foram ao longo destes 8 meses. E ainda lembro estamos falando de segurança. Segurança do Povo, Segurança para nossos filhos, para nossa familia enfim de toda a população.

Confira abaixo tabela de Salários.

REMUNERAÇÃO INICIAL DAS CARREIRAS DE DELEGADO DE POLÍCIA DOS ESTADOS, DISTRITO FEDERAL E POLÍCIA FEDERAL.

Posição
Estado
Salário
1
Polícia Federal
R$ 12.992,70
2
Distrito Federal
R$ 10.862,14
3
Paraná
R$ 8.852,00
4
Goiás
R$ 8.748,00
5
Mato Grosso
R$ 8.552,32
6
Sergipe
R$ 8.469,00
7
Espírito Santo*
R$ 7.551,00
8
Mato Grosso do Sul
R$ 7.370,00
9
Piauí
R$ 7.141,50
10
Rio de Janeiro
R$ 6.895,00
11
Rondônia
R$ 6.729,31
12
Maranhão
R$ 6.653,48
13
Ceará
R$ 6.017,93
14
Roraima
R$ 6.002,00
15
Amapá
R$ 5.982,20
16
Rio Grande do Norte
R$ 5.951,09
17
Acre
R$ 5.874,40
18
Rio Grande do Sul
R$ 5.702,00
19
Pernambuco
R$ 5.266,01
20
Amazonas
R$ 5.086,80
21
Alagoas
R$ 5.050,00
22
Tocantins
R$ 4.862,03
23
Santa Catarina
R$ 4.442,58
24
Paraíba
R$ 4.365,00
25
Minas Gerais
R$ 4.108,42
26
Bahia
R$ 4.005,00
27
Pará
R$ 3.974,40
28
São Paulo*
R$ 3.680,18

Fonte: Sindicatos, Associações e Secretarias de Administração dos Estados.
* - Os delegados da ativa podem receber uns adicionais por escala especial de trabalho extra (24h.) ou de localidade no valor R$ 1.008,00 até R$1.575.




http://www.youtube.com/watch?v=upZUiZr9qa8