Rio de Janeiro – Um estudo elaborado em rede por países em
desenvolvimento e desenvolvidos mostra que, nos últimos seis anos, o
Brasil, México, Chile e Uruguai conseguiram reduzir pela metade o índice
de mortalidade precoce da leucemia promielocítica aguda (LPA), um tipo
mais agressivo de câncer do sangue e da medula óssea.
Para o coordenador do grupo no Brasil, Eduardo Rego, do Centro de
Terapia Celular do Hemocentro de Ribeirão Preto (CTC-HRP), a cooperação
em rede foi fundamental para o bom resultado e para a melhoria
operacional nos controles de casos.
“Esse tipo de câncer é um dos mais agressivos, há elevada
mortalidade nos primeiros dias após o diagnóstico, devido a
manifestações hemorrágicas muito graves. Por isso, o diagnóstico mais
precoce é muito importante, e o fato de conseguirmos trabalhar em
consórcio permitiu que a gente fizesse o reconhecimento dessa forma de
leucemia em poucas horas, o que é crucial”.
Antes da criação do consórcio, em 2006, a mortalidade no primeiro
mês após o diagnóstico era acima de 30% e a sobrevida global após três
anos era cerca de 50%. Em 2011, a pesquisa mostrou que a taxa de
mortalidade caiu para 15% e a de sobrevida aumentou para 80%. Rego
explicou que, em países da Europa como a Espanha, a mortalidade precoce
fica entre 5% a 7% e a taxa de sobrevida de 90%, onde o modelo de
consórcio é antigo. “Esperamos alcançá-los em breve”.
O oncologista explicou que o grupo foi criado em 2006 para que
países em desenvolvimento pudessem trocar experiências e dados de seus
pacientes e receber apoio de grupos de referência da Europa e dos
Estados Unidos. Estudos clínicos de sucesso nos países desenvolvidos
foram adaptados às peculiaridades de cada país.
Uma das adaptações de maior êxito, segundo o estudo foi a
substituição da idarrubicina, substância mais utilizada no combate à
doença na Europa e de elevado custo, pela daunorrubicina, que é uma
substância de menor custo e mais facilmente encontrada no mercado
brasileiro. “Ela alcança os mesmo resultados. A taxa de remissão, ou
seja, de cura, foi semelhante a da idarrubicina”, garantiu o médico.
Outras sete instituições brasileiras participam do consórcio:
Universidade de Campinas (Unicamp); Faculdade de Medicina da Santa Casa
de São Paulo; Fundação Hemope, de Pernambuco; e as universidades
federais de São Paulo, do Paraná, Rio Grande do Sul e de Minas Gerais.
Além do Brasil, participam do consórcio internacional México, Chile,
Uruguai, países da Europa e Estados Unidos.
O estudo foi patrocinado exclusivamente com dinheiro público e, no
Brasil, o financiamento foi provido pela Fundação de Amparo à Pesquisa
do Estado de São Paulo (Fapesp) e pelo Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Na última segunda-feira (14), a pesquisa foi publicada no periódico científico Blood,
da Sociedade Americana de Hematologia, referência mundial na
especialidade. Para o editor-chefe da revista, Bob Löwenberg, o estudo
aumenta o nível de percepção sobre os problemas médicos e estimula a
cooperação e trocas entre especialistas para adaptar experiência às
realidades de cada país.
“Esse estudo demonstra de forma convincente – não na teoria, mas
dentro da realidade do cuidado médico - que é possível implementar
experiências sofisticadas de tratamento em áreas do globo menos
privilegiadas tanto em relação à infraestrutura com à expertise médica”, disse o editor.
No Brasil, o desconhecimento da incidência dos subtipos da doença
compromete o tratamento, porque não existem estatísticas precisas da
LPA. O Instituto Nacional de Câncer (Inca) previu no ano passado 4.570
novos casos em homens e 3.940 em mulheres, mas o levantamento não
distingue a leucemia aguda da crônica.
Eduardo Rego diz que a estimativa é que cerca de 20% das leucemias
mielóides agudas sejam do tipo LPA. “Faltam estudos claros de base
populacional que indiquem qual a incidência das leucemias mielóides
agudas. Ainda temos uma carência muito grande de base de dados
populacional”, explicou.
Por Agência Brasil
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