O Hospital das Clínicas vai destinar 12% de seus atendimentos a usuários dos planos de saúde. Os próprios médicos alertam que o procedimento vai gerar diferenças de tratamento em relação aos pacientes do SUS.
Nacime Salomão Mansur, superintendente de dez hospitais "100% SUS" afiliados à SPDM, Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina, critica a medida. "Imagine dois pacientes necessitando de exames e de internação. Um será atendido em uma semana. O outro, sem recursos, terá de esperar até um ano. Como o gestor impedirá essa distorção?"
A Bancada do PT tem lutado contra a o PLC 45, de autoria do governo, permite às Organizações Sociais (OSs) a venda de 25% dos serviços do Sistema Único de Saúde, incluindo até os leitos hospitalares, para os planos privados de saúde.
Os deputados petistas ressaltam que a medida estabelece a chamada dupla porta.
Leia na íntegra a matéria publicada no jornal Folha de S. Paulo
Símbolo mais vistoso da saúde universal, pública e gratuita no Brasil, o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP vai destinar 12% de seus atendimentos aos planos de saúde.
Com isso, o HC quadruplicará os serviços prestados a convênios (hoje, apenas 3% dos atendimentos são vendidos aos planos).
Boa parte dos médicos ouvidos pela Folha acredita que a ampliação do atendimento aos portadores de planos de saúde gerará diferenças de tratamento em relação aos pacientes do SUS.
A chamada "dupla porta" de acesso ao hospital acaba privilegiando os pacientes conveniados. Eles podem marcar consultas e realizar procedimentos eletivos com mais agilidade.
O projeto é defendido pelo superintendente do HC, o médico Marcos Fumio Koyama, 37. Mais jovem ocupante do cargo que já pertenceu a baluartes da medicina do país, como Enéas de Carvalho Aguiar e Vicente Amato Neto, Fumio acredita que a ampliação do atendimento aos planos de saúde possibilitará atender mais pacientes SUS "e melhor".
O doutor Fumio é um tipo peculiar de médico. A residência, ele fez em administração hospitalar. O mestrado, na Fundação Getulio Vargas. Calouro ainda na medicina da USP, ficava mais impressionado com o excesso de exames para diagnosticar um paciente, do que com a própria enfermidade.
Formado, foi para a AIG Seguros. Especializou-se em ampliar a lucratividade do banco no negócio da saúde. Voltou para a Faculdade de Medicina da USP em 2007.
"Não acho que podemos nos contentar em ser, na rede pública, um arremedo do que é feito de melhor na iniciativa privada", diz.
ARITMÉTICA
Fumio diz que o dinheiro dos planos será usado para financiar melhorias no atendimento gratuito do HC, pago pelo SUS.
"Hoje, os planos pagam 3% dos atendimentos totais do HC. Mas o que eles pagam (R$ 100 milhões/ano) já responde por 10,6% das nossas receitas (R$ 940 milhões)."
Para o médico, cada "paciente com plano de saúde" gera recursos suficientes para o atendimento de três ou quatro "pacientes do SUS".
Segundo as contas, pagando por 12% dos procedimentos do HC, os planos de saúde injetariam recursos que poderiam alcançar até 40% do orçamento atual do hospital.
O paradigma desse modelo é o Instituto do Coração do HC, em que 18% dos leitos já são destinados a pacientes particulares, gerando 50% da receita (os 50% restantes são do tesouro público).
"Costuma-se dizer que o paciente plano de saúde tirará leitos dos pacientes SUS. É o contrário. O paciente do plano de saúde permitirá ampliar e melhorar o atendimento ao paciente do SUS."
Pesquisa feita neste ano no HC mostra que 11% dos atendimentos pelo SUS (gratuitos) foram prestados a pacientes que têm planos de saúde.
"Veja, 11% de pacientes de planos de saúde estão usando recursos do SUS -quando poderiam ser atendidos pelos planos. O que existe hoje é um Robin Hood ao contrário. Tira-se dos pobres para dar aos ricos. Por que não resolver isso em uma relação contratual normal?", indaga.
A ampliação do atendimento aos planos será gradual. O objetivo, diz Fumio, é concluir o projeto até o fim de seu mandato (quatro anos).
Fonte: PTALESP / FOLHA ESTADO SP
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