Desde a eleição ocorrida no último domingo (25), durante o I Congresso Nacional da Juventude do PT, a nova secretária nacional de Juventude do partido tem mantido reuniões para preparar o início de seu mandato a frente da instância jovem. Com uma nova formatação, a Secretaria Nacional de Juventude do PT discute a criação de pastas na sua Executiva e as primeiras ações a serem implementadas. A Construindo um Novo Brasil conseguiu uma brecha na agenda da atarefada Severine Macedo, jovem agricultora rural, saída de um pequeno município da serra de Santa Catarina para liderar o grande desafio de unir a juventude petista e agregar bandeiras que são de todos os jovens brasileiros. Na conversa por telefone, entusiasmada, Severine aponta para os principais desafios da moçada e ressalta a importância do movimento jovem para o futuro do país. Leia a íntegra da entrevista: CNB - Como você avalia a organização do Congresso Nacional de Juventude do PT desde as etapas municipais até a sua eleição? Severine Macedo - Eu acho que foi um marco histórico para o PT e para a juventude do partido por ser um momento de diálogo e de construção de um outro patamar. Ele marca pela importância de responder ao novo momento, de poder ir para fora do PT, de poder dialogar mais com outros setores da sociedade na juventude. Então, por si só já é uma referência importante esse primeiro congresso. Nós tivemos uma série de dificuldades na organização desse congresso nas etapas municipais e estaduais, já que foi muito burocrático, muito baseado no regimento, na disputa entre as forças. Isso acabou dificultando a realização de uma série de congressos municipais, inviabilizando a vinda de muitos delegados em função de recursos desnecessários, ou seja, uma dinâmica que vem se construindo na juventude que não pode mais se repetir. Esse é um aprendizado que a gente tira. De fato existe uma disputa, e isso é saudável dentro do PT, faz parte do processo, mas a gente precisa ter mais maturidade, sem dúvida nenhuma, na construção das próximas etapas que virão para que a gente possa ampliar a participação, envolver mais ainda os jovens filiados, envolver os diretórios do partido. Eu acho que ficou muito só na tarefa da juventude e precisa ser menos centralizado. Acabou ficando bastante centralizada essa construção pela comissão nacional e poderia ter sido mais dialogado com os estados, com as secretarias. Essas foram dificuldades que tivemos no processo desde as etapas municipais. Achamos também como ponto negativo que a gente poderia ter aprofundado mais no debate político durante o congresso. A gente acaba perdendo muito tempo com credenciamento e com disputa política que, como eu já falei, faz parte. Mas podemos dizer, sem dúvida nenhuma, que o congresso foi um marco pelas discussões que ocorreram. Teve avanços importantes como: a questão da paridade de gênero e da paridade étnico-racial; as propostas de ação de juventude que saíram do congresso; o grande número de jovens participantes - foram 800 delegados do país inteiro, além das outras tantas pessoas envolvidas nas etapas estaduais. Teve uma boa representatividade de vários segmentos de juventude, de movimentos e organizações onde a juventude do PT se articula, ou seja, aquela marca só do movimento estudantil vai sendo superada porque nós tínhamos uma diversidade muito grande de movimentos participando. Esses foram pontos positivos do congresso. Enfim, nesse sentido, esse primeiro congresso nos faz refletir e avaliar. A gente tem que aprender com esses erros para poder ir qualificando, mas isso não tira o brilho do processo, que afinal teve maturidade política para buscar consensos entre as forças, e isso foi muito interessante e nos remete agora para novos desafios. CNB - Qual foi a importância deste primeiro Congresso para a militância jovem petista? Que lições a juventude leva para casa? Severine - Esse primeiro congresso nos obriga a discutir para além do interno do partido. Uma das grandes tarefas que a gente tirou desse processo é a necessidade de fortalecer a juventude dentro do partido. É reafirmar o PT como uma grande referência para a juventude, organizar as instâncias partidárias, as secretarias municipais, estaduais e nacional. Nos remete a estimular o protagonismo de fato da juventude dentro do partido, mas reforça também a necessidade da juventude no compromisso com as suas pautas e também no compromisso geral com o Partido dos Trabalhadores, com esse nosso instrumento de transformação. E nos compromete mais ainda com a construção do Brasil que queremos, um Brasil que a gente quer construir para homens e mulheres de todas as idades. Esse reforço do papel que a juventude tem para dentro e para fora do partido foi importantíssimo. Que a juventude tem um papel nas políticas específicas, com a defesa de suas bandeiras, com o estímulo ao protagonismo e autonomia, mas que também a gente precisa repensar na incorporação aos grandes temas em que toca o PT, no nosso projeto político e na transformação que a gente está fazendo no país. Sem dúvida nenhuma, a gente sai daqui com esse sentimento da responsabilidade que a juventude tem não só com as suas bandeiras, mas com todo o partido. A gente sai do congresso com esse desejo e reforçando o nosso papel neste processo. Outra lição importante que a gente tira é a de que precisamos superar as disputas internas por coisas desnecessárias para produzir consensos que impactem à juventude como um todo. Dar resposta para a juventude brasileira, para os nosso movimentos que articulam com o partido. E ainda ter a capacidade de romper com essa dicotomia entre partido e movimentos juvenis. A gente acha que tem como melhorar essa relação, dar mais visibilidade à articulação da juventude do PT para fora do PT. Precisamos de fato discutir o combate a homofobia, a necessidade de superação das desigualdades raciais, a participação do movimento GLBT, das mulheres, da juventude rural, fazer o debate da reforma agrária. Ou seja, ampliar de fato, incorporar essas bandeiras e contribuir para o fortalecimento da juventude nos vários espaços em que a gente está atuando. Outro tema de casa são as eleições municipais deste ano, que vão ser um momento importantíssimo, não só estimulando a participação de candidatos, mas fazendo um grande diálogo com o partido e pautar os programas de governo. Não são poucos os desafios, mas a galera saiu muito animada, muito empolgada. Eu acho que o congresso ajudou a construir uma outra dinâmica que a gente espera nessa nova gestão imprimir. Os frutos são de todas as forças políticas que se colocaram nessa construção e que terão a responsabilidade de continuar no diálogo aberto, fraterno para conseguir avançar para fora e para dentro do partido. CNB - Por sua trajetória oriunda do campo e postura agregadora, a escolha de seu nome para a direção da Juventude nacional petista aponta para uma gestão que vá além do movimento estudantil e que dialogue também com as pastorais da juventude e juventudes da periferia e rural. Como organizar estes movimentos de forma a unificá-los numa plataforma comum da juventude? Severine - Essa é uma das nossas grandes tarefas. A gente tem que ter clareza de que existem papéis diferenciados, mas articulados. Os movimentos têm sua autonomia, sua metodologia, têm algumas bandeiras as quais não é tarefa do PT intervir ou dar a linha conduzindo o processo. O que é tarefa do PT é incorporar as bandeiras dos movimentos, ter a capacidade de dialogar com essas várias frentes de ação e contribuir no fortalecimento dos movimentos de organizações históricas que dialogam a juventude, como as pastorais, movimentos estudantil e sindical. Mas hoje tem uma gama de organizações, que já articulam a partir da idéia da cultura, no terceiro setor, nos mais variados setores, e que a gente também precisa incorporar e articular, sabendo que existem diferenças de papéis e buscando incluir essas temáticas nas grandes políticas que são demandas da juventude como, por exemplo, a questão da educação, da geração de trabalho e renda. É importante termos a clareza de que, se a gente não discutir um recorte de como é que as mulheres vão garantir acesso; de como é que os jovens rurais - que têm uma outra dinâmica que não é discutir emprego, e sim geração de trabalho e renda nos espaços onde eles vivem - terão uma educação diferenciada, se não se discutir esses recortes dentro da política geral a gente vai continuar excluindo juventudes importantes. É, primeiro, reconhecer que a gente não tem uma juventude homogênea e que nosso desafio é conseguir articular o que é central, o que unifica esses vários movimentos, garantindo as políticas prioritárias e também a incorporação dessas diversidades de bandeiras. CNB - Como você avalia as políticas para a juventude implementadas pelo governo federal? O que os jovens já conquistaram e o que falta ainda avançar para garantir melhores condições à juventude brasileira? Severine - É um avanço extraordinário o que a gente teve no governo Lula. Tem uma dívida histórica com a juventude brasileira que nunca teve políticas específicas, pensadas a partir da sua realidade. Então é importante essa incorporação da necessidade de discutir política de juventude, para juventude e com a juventude, e não sendo um processo de cima para baixo ou com políticas paliativas. O que a gente tem hoje, a superação da idéia de juventude como um problema social, é um dos avanços que a gente tem percebido nessa discussão com o próprio governo. O fato de escutar os jovens e, dentro disso, a criação do Conselho Nacional de Juventude, que eu acho que foi um fato importantíssimo, uma reivindicação histórica dos movimentos e que esse governo teve a sensibilidade de incorporar. A própria Secretaria Nacional de Juventude como sendo um espaço de articulação das políticas públicas dentro do governo, uma série de programas que foram criados - como o Prouni, o Projovem e outros programas na área da cultura, do trabalho, da educação - foram fundamentais para construir referência. No entanto, a gente acha que ainda são políticas que precisam ser melhor incorporadas e melhor articuladas. Ainda são programas que nem sempre se articulam. Tem também muito a ser construído na perspectiva da incorporação de alguns temas. Por exemplo, há muita dificuldade de pautar as necessidades de políticas para a juventude rural. Estou falando daquilo que eu vivencio no dia-a-dia, o que é a minha realidade como jovem agricultora, são políticas geralmente urbanas que são adaptadas para o espaço rural. Mas, sem dúvida nenhuma, houve um avanço, há uma abertura para o diálogo com o movimento. A Conferência Nacional de Juventude foi um momento importantíssimo do debate sobre as políticas públicas de juventude, tirou uma série de resoluções e prioridades que contemplam os mais variados setores, incluindo os jovens portadores de deficiência, as jovens mulheres, os jovens rurais, as bandeiras da educação, da cultura, de segurança. Conseguiu incorporar uma série de demandas da juventude. Agora, o desafio é dar continuidade a isso, é implementar para que essas diretrizes virem políticas concretas. Para que a PEC da juventude que está tramitando no Congresso seja aprovada, para que a gente de fato possa fazer que o plano nacional de juventude funcione há um série de tarefas que esse governo tem ainda a cumprir para a gente ter uma outra forma de tocar a juventude e para que, independente de governo essas políticas possam continuar. CNB - Taí a necessidade do fortalecimento desse movimento da juventude. Qual a importância do PT para essa organização? Severine -O PT tem que fortalecer a sua ação na perspectiva de uma juventude de massa. A gente não quer ser um partido que vai discutir juventude só para ter quadros políticos. Eu acho que é importante formar quadros novos, formar dirigentes e a juventude intervir nas instâncias partidárias no seu tempo histórico. Não só como futuros dirigentes que vão assumir o PT um dia. Acho que a juventude, hoje, com as suas características nesse diálogo intergeracional pode contribuir, sim, com o partido somando-se aos dirigentes históricos que estão no dia-a-dia da construção partidária. Sem uma disputa de espaço e construindo um lugar para a juventude de hoje, o que a gente quer de fato é ter dirigentes, ter vereadores, ter deputados jovens, mas a gente quer ser referência para a juventude brasileira como um partido que debate a especificidade, e debate o projeto político. Nosso grande objetivo é garantir as transformações que a gente já vem proporcionando nesse país, construir um novo modelo de desenvolvimento. Mas, sem articular a participação de setores que sempre tiveram a margem do processo - como as mulheres, os jovens e os negros, por exemplo -, a gente vai continuar reproduzindo as desigualdades e aí a gente não constrói o projeto que a gente quer. Então o PT, essa grande referência para a esquerda na América Latina, para a esquerda mundial, consolida esse governo como um governo de transformação e de mudanças importantes e estruturais nesse país, mas tem que se tornar também uma referência para a juventude. E mostrar que a juventude pode e deve participar da vida política do país, porque a juventude do Brasil é uma das mais pessimistas no mundo em relação à política e à participação. Os jovens organizados já são um público importante que o PT precisa articular, mas você imagina os jovens que não estão participando de organização alguma, que estão desacreditados com a política... É nesse povo que a gente precisa chegar, é com essas pessoas que o PT precisa de fato se referendar como partido e importante instrumento para a transformação social como um todo e para a superação das desigualdades nos vários setores que compõem a nossa sociedade, incluindo juventude. CNB - Houve uma mudança na estrutura organizacional da Secretaria da Juventude. O quê mudou com essa nova organicidade e que papéis e funções terão os membros do Coletivo Nacional? Severine - A Juventude deixa de ser um setorial apenas, o que permite aos jovens ter o seu espaço de organização e poder militar em outras áreas, participar de outros setoriais. Isso é importante porque garante a inserção da temática da juventude dentro de outras temáticas. A juventude precisa estar articulada no todo do partido, e isso facilita. Na organização específica da Juventude, o novo formato vai ser uma secretaria com uma executiva que vai ter um papel mais de coordenação, de articulação da juventude para dentro do partido e na execução das tarefas do dia-a-dia da ação da juventude. Pretende aí ter umas pastas a serem criadas como a da Comunicação, a de Formação, uma Secretaria Geral, entre outras que a gente está debatendo. Vai ter uma estrutura do coletivo mais ampliada, que consiga reunir vários segmentos que compõe a juventude e incorporar uma representação dos jovens rurais, dos jovens negros, de mulheres, do movimento sindical, dos vários setores que se articulam hoje na juventude do PT. Vai ter, além da Executiva e do Coletivo, um Conselho Político que vai ser composto pelas secretárias e secretários estaduais de Juventude. Um espaço que vai se reunir duas a três vezes por ano para discutir as grandes questões e garantir a articulação com os Estados de forma direta. É importante destacar que para essa nova etapa de organização foi aprovada no congresso a paridade de gênero, uma importante bandeira defendida por todas as forças, e a paridade étnico-racial em nível nacional. A paridade étnico-racial nos Estados e municípios deve se dar de maneira proporcional ao que representam os negros em cada Estado e município. Esse desenho organizativo é mais ousado e a gente espera conseguir ter uma outra dinâmica de funcionamento. Mas achamos que ter só uma nova estrutura não resolve o problema. A gente precisa inovar na metodologia, buscar superar alguns ranços que a gente tem. A disputa interna vai continuar existindo e ela é saudável. O PT se organiza dessa forma. Então vai exigir muita maturidade, articulação e um trabalho conjunto dessas várias instâncias. Vai exigir que a gente consiga dialogar com as secretarias municipais de Juventude, fortalecer o diálogo com os Estados. Senão, não adianta ter um desenho bonito no papel, tem que efetivamente funcionar e todo mundo vai ter que fazer um esforço coletivo para que essas tarefas todas se cumpram. A galera saiu muito animada do Congresso. Precisamos dar continuidade a essa empolgação com responsabilidade para que a gente consiga buscar a unidade entre as várias forças que compõe o PT. E para que a estrutura dê conta e que a gente permita ampliar a participação da juventude dentro do partido. CNB - Essa nova organização já é um passo importante para a juventude melhorar a sua mobilização, mas agora, como você disse, é preciso fazer acontecer. Severine -Exatamente. E discutir com o todo o PT o apoio e prioridade que o partido tem que assimilar para que a juventude possa se incorporar no todo. CNB - Que mensagem você poderia deixar aos jovens brasileiros? Severine - A nossa mensagem é que a juventude tem que ser protagonista na construção do Brasil que a gente quer, mais justo, mais igualitário. É dar continuidade a essa transformação que o governo Lula vem construindo nos seus mais variados espaços. É importante reforçar o papel que a juventude tem nos movimentos, na participação política, no dia-a-dia da desconstrução de algumas discriminações que acontecem na sociedade e que são construções culturais. Buscar um diálogo com uma outra perspectiva intergeracional entre jovens e adultos e superar as desigualdades de gênero, pois acho que a juventude não pode reproduzir estes parâmetros construídos historicamente. É uma fase da vida importante, de definições. No futuro a gente não vai ser jovem, mas a gente tem um compromisso com nosso tempo histórico, de garantir a articulação com vários espaços para responder às nossas bandeiras específicas, e mais a construção de um novo Brasil. Sabemos que tem que ser um trabalho coletivo para que possa dar certo e deixamos a certeza de que só a luta e a organização vai poder produzir grandes transformações. E a juventude não pode ficar de fora dessa luta. CNB - Podemos dizer que a construção do Brasil que queremos está muito na força da juventude, pois os jovens de hoje são o Brasil do futuro. Parabéns, Severine, pela eleição e boa luta a todos! Severine -Sem dúvida a tarefa é muito grande, pois são mais de 50 milhões de jovens no Brasil que necessitam de políticas específicas. É um público que tem que ser agente nessa construção. Estimular essa participação, estimular a cidadania é uma grande tarefa nossa, e eu vou estar empenhada nesse processo. Obrigada |
quinta-feira, 29 de maio de 2008
A Força da Juventude para garantir a transformação social
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